Voltar é bom. Voltar é tudo o que eu já não esperava. São os cheiros que se conhecem, os passos que se podem dar de olhos fechados, as vozes lá ao fundo que nunca se confundiriam com mais nenhumas. Voltar é saber melhor com o que se conta mas não saber deixar de lado a pontinha de inocência que resta do início. Voltar é recuperar rotinas, sensações, espaços, defesas e esperanças. Voltar é um sonho que eu já não tinha, que se transformou apenas numa possibilidade remota que imaginava para daqui a vários anos, rodeada de "ses" e de "talvezes" e de "quem sabes". Só que, no espaço de muito poucos (e insanes) dias, voltar deixou de ser uma miragem e passou a ser a realidade mais concreta de todas – embora eu ainda não tenha descoberto como acreditar nela.
Voltar é voltar devagarinho, pé ante pé, não vá isto ser um sonho e esfumar-se por entre os dedos ao mínimo passo em falso. Voltar é saber que tudo mudou mas que há coisas que hão-de ser sempre iguais.
Volto diferente de quem fui. Mas volto eu, toda eu.
Voltar é voltar aos abraços. Aos sorrisos. Ao calor. A "nós".
É voltar a casa.