Dou por mim sentada numa
poltrona. Do lado de cá, estou eu, com uma fina barreira a separar-me da
confusão. Por pouco, não fico submersa. Luto contra a proximidade que se impõe
e obrigo-me a ficar na poltrona. Afinal de contas, é mais confortável. A vista é melhor.
E apreciar as sagas do lado de fora, como se não fossem as nossas, tem um sabor
curioso. Confuso, até irritante, mas curioso.
Do lado de lá, há de tudo. Há
barulho, gritos, confusão. Gente indignada com gente baralhada. Gente que
aplaude uma mini-catástrofe disfarçada de conquista. Gente que não sabe do que
fala e por isso acha que fala de algo bom. Gente que engana, gente que se
enganou e gente que se deixa enganar. Do lado de cá, permaneço eu, sem saber o
que faça: divido-me entre a vontade retorcida de bater palmas com os enganados,
juntando-me à farsa como se caísse nela, e o desejo de desfazer os equívocos a
alto e bom som, em palavras escritas aos gritos, porque está na hora de acordar
o mundo para o absurdo.
Tenho a verdade e o engano nas
mãos. A verdade numa, o engano na outra. Sei o que uns sabem e sei o que os
outros não dizem. Conheço tão bem o real quanto a confusão. Mas ninguém sabe
disso – nem de um lado, nem do outro. Não sei que caminho siga; sinto o juízo
rasgado a meio, entre o conforto da poltrona e a urgência dos pontos nos i’s.
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