Quem quiser que lhe chame emoção. Eu chamo-lhe impaciência. O discernimento não chega para mais, nesta urgência de pensamento que transforma o mais simples bloco de notas em algo essencial, para que possa, a qualquer instante, soltar ideias aos jorros. As minhas caminhadas diárias em 'terra-de-ninguém' são ricas em pensamentos que deixam de fazer sentido antes sequer de começar a montá-los, e por isso o bloco também é uma grande ajuda.
Gosto muito de palavras, tanto que às vezes só consigo fazer delas um silêncio maior. E de repente surge aquela música. Entre tantas outras possíveis, aquela. E eu também gosto muito de músicas. E de letras. O primeiro de todos os efeitos que a música tem em mim chama-se inspiração (o arrepio ou o pulo no coração fazem parte dela). E inspiram-me as pessoas - muitas vezes para o bem e vezes a mais para o mal. E as palavras, claro. O som delas e o que esse som esconde. Os significados. E por isso há palavras que me dizem muito - dizem-me tanto que prefiro pensá-las a escrevê-las, porque escrevê-las estaria muito longe de ser suficiente.
Se calhar nada disto faz sentido, mas para mim fez, hoje e agora. Voltando ao princípio, o que há em mim é impaciência. E para essa faltam-me as palavras. É demasiado complexo e inútil escrever sobre o que não percebo nas pessoas, e sobre o quanto me aflige a incapacidade que muitas delas têm para absorver o que as rodeia ou para se aperceberem das possibilidades.
Aqui está o mundo. Inteiro. Escancarado. Pleno de tudo. Certo, tão certo. O que é que se faz a quem não o vê? A quem não dá por nada? Como é que se mostra o óbvio, o absoluto, a quem decidiu não olhar?
(E voltando atrás, à música... Há letras que mereciam ser ouvidas e, mais do que isso, sentidas. Até mereciam ser cantadas em dados momentos.)