27 fevereiro 2012

Stop.

Voltar às origens. À estaca zero do que na verdade nunca se chegou a conseguir. Parar para pensar e concluir que o caminho é meu e que me decidi a ficar para sempre parada nele, à mercê das marés.

Não sei caminhar. E não quero que ninguém caminhe comigo ou me tente ensinar a fazê-lo. Quem for esperto, foge antes. E se eu gosto ou não disso, se me é indiferente ou se me mata, não interessa, porque nunca interessou. A minha felicidade foi sempre uma realidade dúbia e pouco clara até mesmo para mim. Nunca teve grande importância nem sequer grande demonstração. Foge de mim. Esconde-se nos outros, em meandros onde não consigo penetrar. E o ciclo é sempre este - uma vez, outra vez, tantas vezes, todas as vezes.

22 fevereiro 2012

Cores.

É tão difícil, para as pessoas, falar. Falar, só. Abrir a boca e dizer. Fazer do preto, preto, e do branco, branco. Os cinzentos são lindos, fundamentais e é neles que mora a verdadeira magia da vida. Certo. Certíssimo. Mas, por vezes, o concreto é essencial e há coisas que não se salvam nos meios-tons. Primeiro, ou pelo menos a dada altura do caminho, preto ou branco; depois, sim, cinzentos sem fim e o arco-íris inteiro repleto de todos os gradientes possíveis e impossíveis - que nisto da vida não há limites para a cor.

Mas, primeiro, preto ou branco. Ou preto no branco.

21 fevereiro 2012

Só.

A banda sonora adequada para o momento mais descompassado de todos.
Só. Porque não sei dizer mais.



14 fevereiro 2012

É isto.

«E eu quero brincar às escondidas contigo e dar-te as minhas roupas e dizer que gosto dos teus sapatos e sentar-me nos degraus enquanto tu tomas banho e massajar o teu pescoço e beijar-te os pés e segurar na tua mão e ir comer uma refeição e não me importar se tu comes a minha comida e encontrar-me contigo e falar sobre o dia e rir da tua paranóia e dar-te cassetes que tu não ouves e ver filmes óptimos, ver filmes horríveis e queixar-me da rádio e tirar-te fotografias a dormir e levantar-me para te ir buscar café e falar-te sobre o programa de televisão que vi na noite anterior e não rir das tuas piadas e querer-te de manhã mas deixar-te dormir um bocado e beijar-te as costas e tocar na tua pele e dizer quanto gosto do teu cabelo dos teus olhos dos teus lábios do teu pescoço... e sentar-me nos degraus a fumar até o teu vizinho chegar a casa e se sentar nos degraus a fumar até tu chegares a casa e preocupar-me quando estás atrasada e ficar surpreendido quando chegas cedo e ir à tua festa e dançar até ficar todo negro e pedir desculpa quando estou errado e ficar feliz quando me desculpas e olhar para as tuas fotografias e desejar ter-te conhecido desde sempre e ouvir a tua voz no meu ouvido e sentir a tua pele na minha pele e ficar assustado quando estás zangada e um dos teus olhos vermelho e o outro azul e o teu cabelo para a esquerda e o teu rosto para oriente e dizer-te que és lindíssima e abraçar-te quando estás ansiosa e amparar-te quando estás magoada e querer-te quando te cheiro e ofender-te quando te toco e choramingar quando estou ao pé de ti e cobrir-te à noite e ficar frio quando me tiras o cobertor e quente quando não o fazes e derreter-me quando sorris e desintegrar-me quando te ris e não compreender por que é que pensas que eu te estou a deixar quando eu não te estou a deixar e pensar como é que tu podes achar que eu alguma vez te podia deixar e pensar em quem tu és mas aceitar-te na mesma e contar-te sobre o rapaz da floresta encantada de árvores anjo que voou por cima do oceano porque te amava e escrever-te poemas e pensar por que é que tu não acreditas em mim e ter um sentimento tão profundo que para ele não existem palavras e atrasar-te na cama quando tens de ir e chorar como um bebé quando finalmente vais e comprar-te prendas que tu não queres e vaguear pela cidade pensando que ela está vazia sem ti e querer aquilo que queres e achar que me estou a perder mas saber que estou seguro contigo e contar-te o pior que há em mim e tentar dar-te o meu melhor porque não mereces menos e responder às tuas perguntas quando deveria não o fazer e dizer-te a verdade quando na verdade não o quero e tentar ser honesto porque sei que preferes assim e pensar que acabou tudo mas ficar agarrado a apenas mais dez minutos antes de me atirares para fora da tua vida e esquecer-me de quem sou e tentar chegar mais perto de ti porque é maravilhoso aprender a conhecer-te e vale bem o esforço e de alguma maneira de alguma maneira de alguma maneira transmitir algum do esmagador, imortal, irresistível, incondicional, abrangente, preenchedor, desafiante, contínuo e infindável amor que tenho por ti.»

[Sarah Kane - 'Falta']

É tão isto. É precisamente isto.

13 fevereiro 2012

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Dizem-me

Espera. Pára. Não faças. Não ligues. Entende. Atira-te de cabeça. Vai aos poucos. Conta mais. Não contes tudo. Não contes nada. Conta só parte. Não acredites. Acredita. Deixa-te levar. Mantém a distância. Não é normal. É mesmo assim. Vai vendo. Não tentes ver. Aceita tudo. Dá tudo. Não esperes nada. Não dês nada.

O que é que eu digo no meio de tudo isto? Digo o mesmo. Digo que não é normal. Mas que pode ter lógica. Que não faço ideia do motivo. Mas que acredito na justificação. Que nada faz sentido. Mas que não tem de fazer. Que não percebo nada. Mas que é mesmo assim.

Digo que não acredito. E não acredito. Mas acredito em tudo. Ou em parte. Ou em coisa nenhuma.

09 fevereiro 2012

(Ninguém disse que isto ia fazer sentido.)


Quem quiser que lhe chame emoção. Eu chamo-lhe impaciência. O discernimento não chega para mais, nesta urgência de pensamento que transforma o mais simples bloco de notas em algo essencial, para que possa, a qualquer instante, soltar ideias aos jorros. As minhas caminhadas diárias em 'terra-de-ninguém' são ricas em pensamentos que deixam de fazer sentido antes sequer de começar a montá-los, e por isso o bloco também é uma grande ajuda.

Gosto muito de palavras, tanto que às vezes só consigo fazer delas um silêncio maior. E de repente surge aquela música. Entre tantas outras possíveis, aquela. E eu também gosto muito de músicas. E de letras. O primeiro de todos os efeitos que a música tem em mim chama-se inspiração (o arrepio ou o pulo no coração fazem parte dela). E inspiram-me as pessoas - muitas vezes para o bem e vezes a mais para o mal. E as palavras, claro. O som delas e o que esse som esconde. Os significados. E por isso há palavras que me dizem muito - dizem-me tanto que prefiro pensá-las a escrevê-las, porque escrevê-las estaria muito longe de ser suficiente.

Se calhar nada disto faz sentido, mas para mim fez, hoje e agora. Voltando ao princípio, o que há em mim é impaciência. E para essa faltam-me as palavras. É demasiado complexo e inútil escrever sobre o que não percebo nas pessoas, e sobre o quanto me aflige a incapacidade que muitas delas têm para absorver o que as rodeia ou para se aperceberem das possibilidades.

Aqui está o mundo. Inteiro. Escancarado. Pleno de tudo. Certo, tão certo. O que é que se faz a quem não o vê? A quem não dá por nada? Como é que se mostra o óbvio, o absoluto, a quem decidiu não olhar?

(E voltando atrás, à música... Há letras que mereciam ser ouvidas e, mais do que isso, sentidas. Até mereciam ser cantadas em dados momentos.)

07 fevereiro 2012

Silêncio.

Papel em branco. Cabeça em preto.
Papel sem linhas. Cabeça aos nós.
Papel liso. Cabeça amarrotada.

Um mundo para dizer - num mundo sem palavras que cheguem para uma única frase.

Há tanto que te quero contar. Há tanto de mim que tens de ver. De sentir. De perceber. De que tens de te aperceber. Há tanto cá dentro guardado para ti.