Não escrevo para ti. Não. Não faço isso. Escrevo para mim. Para colar os bocados que tu agarras, puxas e descolas de vez em quando. Para sarar as feridas antes do embate seguinte, que vai abrir as que já cá estão, e, como a sorte é pouca, vai de certeza quebrar-me mais um ou outro pedaço. (Seja como for, já pouco resta inteiro, por isso, menos mal.)
Não. Não escrevo para ti. Escrevo, evidentemente, para mim. Para fechar os olhos ao que magoa o coração, para fechar a alma aos pequenos grandes golpes com que a rasgas quando queres ou sem quereres.
Coisas muitas são as que povoam o meu subconsciênte, na procura que faço há muito sobre os caminhos que quero trilhar para chegar ao meu destino. Coisas muitas são também os sobressaltos de uma guerra que acabou há muito nas anharas da minha terra,e onde ficaram abandonados os corpos mutilados e sem vida de amigos de uma vida! Coisas muitas são as angústias de uma noite escura que desceu há muito sobre este mar profundo e me tragou para sempre no gelo das suas águas misteriosas. Coisas muitas são o adeus derradeiro de gente que se cruzou comigo e me acenou com um sorriso ao longo da minha vida. Coisas muitas são as minhas jornadas adiadas! Coisas muitas são os imbondeiros da minha terra postados numa prece permanete a um deus desconhecido. Coisas muitas são o murmúrio das árvores seculares da minha terra, povoando florestas secretas e misteriosas. Coisas muitas são as picadas sem fim que descem o morro íngreme a caminho da nascente de Iêmanjá, onde os homens bons bebem a néctar do amor!
ResponderEliminar