Há dias em que uma pessoa se sente tão pequenina. Todos são maiores que nós. De tal forma maiores que nos esmagam, deixam-nos na sombra, tapam-nos. Esgana, aperta o pescoço, esta sensação de que, aos olhos que mais importam, não sou mais que nada. Sou nada, apenas um grande, enorme, gigante, absoluto nada. Sou menos que nada. Parece que nunca "fui". Que nunca "cheguei a ser". Que nunca existi. Que sou, cruamente, uma "não-existência". E isto esgana, sufoca, deixa os olhos molhados durante muito tempo.
Ninguém sonha o que me apetece dizer. Fazer. Ninguém sonha o que vai aqui dentro neste preciso segundo. A revolta, o turbilhão, o grito entalado no peito, na garganta, em mim, de cima a baixo. Corpo e alma. A vontade que tenho de correr, correr muito, até chegar, esgotada e furiosa, ao sítio onde posso dizer as verdades. Sem rodeios, sem meias-tintas, sem dó nem piedade. À bruta. A violência do que sinto é maior que tudo.
Juro que, um dia, não sei o que faço. Mas há uma coisa que eu sei:
Isto não fica assim.