28 novembro 2012

Do que devia ser e não é, do que podia ter sido e não foi.

Vens e vais, chegas e partes, aproximas-te e afastas-te. O mar é maior que tu mas tu não és nada pequeno. E és como as ondas, sabes? Como as ondas. De um daqueles mares nem revoltos, nem tranquilos. Chegas, tocas-me os pés e vais embora outra vez. Como se tivesse de ser assim, como se te tivesses comprometido com uma eternidade qualquer que não te permitisse dar mais que dois passos seguidos na mesma direcção - que não te deixasse vir morrer na tua praia, que é como quem diz no abraço a que se quiseres pertences. Quero dar-te aquilo que nem sequer sabes que podes receber. Mas aposto que o queres. Porque precisas. De um abraço que seja teu, de alguém que olhe em frente contigo mas que te acompanhe nessas tuas estadias no passado. Sei a falta que te faz ser com alguém. Ser, só ser. Seres. Sermos. Se quisesses. Se soubesses. Se, por um instante, ficasses. Te demorasses. Mais que uma onda, mais que dois passos.

16 novembro 2012

La maison des rêves.

Pegar na mala. Fugir. Bilhete sem volta. Frio à chegada, nuvens sem chuva, cachecol no nariz e nas orelhas. Águas furtadas, telhados, janelas, palavras bonitas e um ar diferente dos outros. Cantos e recantos. Cafés, pontes, música, o rio, as mil vistas e ainda mais uma que entretanto tinha escapado. Ruas, museus, subir e descer, lojas onde não se compra nada mas se absorve tudo, montras sem movimento mas com a vida própria da cidade. Luz, noite, fé.

Palavra soltas.
Do sítio a que tardo em voltar.



14 novembro 2012

Esta mania que eu tenho de debruçar demasiado o coração nas coisas. Não o coração dos amores; o dos afectos, o das esperanças, o do futuro. Depois o vento sopra e esse coração abana. Desequilibra-se, cai. Bate no chão e dói um bocadinho.

Haja música, livros e Lisboa. Natal em Dezembro e chocolate quando apetece.

12 novembro 2012

"O Encontro."

"Conto até cem e, se não chegares antes dos cem, vou-me embora. Não chegaste antes dos cem. Conto de cem a um e, se não chegares antes do um, vou-me embora. Não chegaste antes do um. Conto dez automóveis pretos e, se não chegares antes dos dez automóveis pretos, vou-me embora. Não chegaste antes dos dez automóveis pretos. Nem antes dos quinze taxis vazios. Nem antes dos sete homens carecas. Nem antes das nove mulheres loiras. Nem antes das quatro ambulâncias. Nem sequer antes dos três corcundas e, entretanto, começou a chover."

António Lobo Antunes