28 julho 2011

O limite da exaustão.


Todo o “eu” é um grito. Aflito, sufocado, de quem não aguenta mais. De quem não aguenta mesmo mais.

Um grito mudo, surdo nos ouvidos de quem devia dar por ele. Tão surdo! Tão sem som! Estou a gritar tanto, tanto, no desespero mais profundo, saído do lado mais escuro de mim, uma coisa que eu nunca vi, nem nunca ouvi, e agora está alto e a bom som na minha cabeça, no meu corpo, à minha volta, como se eu estivesse numa cápsula feita desse grito, está na aflição, na mão invisível que agarra o pescoço, nos olhos que deitam rios, no desespero mais pleno… Um grito, um grito, um GRITO!

… E não me ouvem. 

Quero correr até as pernas ficarem moles e não me deixarem continuar nem por mais um passo. Quero correr, fugir, vento na alma, vento cá dentro. Quero desfazer-me em pó nesse vento, e quero que depois ele me espalhe por aí para que não me encontrem. Que ninguém saiba mais de mim. A seu tempo tratarei de me juntar, da poeira aos pedaços e depois ao eu inteiro, mas longe, tão longe que já nada doa, que já nada massacre, que já nada lembre.

Dói-me o passado, dói-me o presente, dói-me tanto o futuro. Dói-me o físico, o não-físico, as sensações, os desgostos. Até me doem coisas que nem sei o que são. Dói-me o desespero e o grito que cada vez é mais alto e que ao mesmo tempo é tão desesperadamente mudo aos ouvidos de quem mo cria, como se caísse no vácuo. Num buraco negro que suga tudo.

A mim já me sugou a energia. Toda. Toda, toda, toda. A que tinha e a que nunca tive. Não aguento mais.

21 julho 2011

Do caminho.


As vitórias fazem-se passo a passo, por vezes em passos tremidos. E cada um deles é, só por si, uma vitória em ponto pequeno. Nem que tenha de ser dado de olhos fechados, mordendo o lábio, de mãos apertadas.

As portas fecham-se. Só que algumas delas têm frestas, ranhuras, por onde a luz passa e por onde se vê o que se quis deixar do outro lado.

20 julho 2011

Nome.


Depois do tudo, como é que se chama ao que fica? Ao resto que resta? Ao nada que parece nada mas que não é bem nada, é mais qualquer coisa embrulhada em algo que não tem nome?

Como é que se chama a esta coisa esquisita que sobrou de ti e de mim?

14 julho 2011

Nó.

Acho que mataste as palavras em mim. Ou então baralhaste-as de tal maneira que estou longe, muito longe de conseguir arrumá-las.

Os dias que já passaram. E, neles, um nó que nunca mais está completamente desfeito.

04 julho 2011

Três.

Não sei se três anos são muito ou pouco tempo. Depende da luz que os ilumina, do pormenor com que se vêem depois de terem passado.

Foram uma eternidade. Três anos gigantes que ao mesmo tempo parecem ter passado num sopro. Três anos pequenos, demasiado velozes, mas que parecem ter-se estendido pelo espaço de várias vidas.

Três. Cheios. Emocionantes. Plenos. A rebentar pelas costuras que cosem o tempo. Num sufoco de sorrisos e lágrimas, do princípio auspicioso ao fim mal-amanhado.

Para o bem e para o mal, há sítios, pessoas, memórias e sensações que nunca vão descolar-se de mim.

01 julho 2011

(Quase) Um.



A calçada matinal debaixo dos pés sempre, sempre apressados. A vista da viagem feita quase diariamente de pé. A luz cá fora. O caminho — que se fará para sempre de olhos fechados, porque há sítios que são nossos, como partes integrantes do nosso corpo, e não nos perdemos lá porque não temos como nos soltar deles.

A porta. As vozes. Os sorrisos. Os bons dias e os olás. Os cheiros. As rotinas, as correrias, as piadas, os prazeres.

As gargalhadas. Os abraços.

Os dias.

A vida.

As pessoas.

O que pairava. Porque há coisas que ficam no ar, que pairam. Flutuam. Não se agarram, embora pareçam palpáveis de tão concretas. Sentem-se. Apenas isso.

"Há um ano atrás, por esta altura, era tudo tão diferente."

Tal como escrevi no outro cantinho digital, um brinde às boas recordações, ao passado para sempre tão doce, e a quem dele ficou para o futuro.