18 junho 2013

Um.



E foi sem se dar por ele que um ano se passou. Não há muitas palavras a propósito da efeméride. Basta-me o conforto, cá dentro, de a vida me ter dado a oportunidade de fazer aquilo que mais prazer me dá. Trabalho que não sabe a tal. A magia do estúdio, do som, de passar boa parte das músicas que fazem parte da minha banda sonora pessoal. E o puro consolo de um regresso a casa, onde se detectam as presenças pelos risos e onde bastam determinados sorrisos para tudo se tornar subitamente aconchegado e aconchegante.

Só isto. Simplesmente.
Um ano depois.

21 maio 2013

A ausência fez-se do tempo certo para tudo o que vai cá dentro e lá fora. Tempo que é o passado feito presente, um passado acabado que jamais poderia significar futuro — mas que, no futuro, hoje presente, regressou da forma mais inesperada. É cedo para perceber, para encontrar sentido, até para pousar os pés no chão. É novo, isto, por ser vida e história de poucos meses (que parecem tantos) e também por ser muito, muito maior do que tudo o que ficou para trás. Não insisto em procurar palavras. Porque eu, que tanto as prezo, e que as saboreio sempre mais um pouco, não conheço nem uma que sirva para estes últimos meses. A ausência é culpa disso  das palavras que ainda não descobri, ou que ainda ninguém inventou, para contar aquele momento em que tudo faz sentido pela primeira vez. O momento em que um ciclo se encerra, como uma volta completa, e em que do nada se descobre que, afinal, aquilo lá atrás era um ponto de partida, agora feito ponto mais pleno e mais perfeito de chegada. Como se tivesse de ser assim desde o início (quando o início ainda não era percebido dessa forma). Agora, em vez de fim, um regresso ao primeiro passo mas em jeito de recomeço. Em jeito de aventura, de história e de certeza. Num bom golpe de Deus, do destino, da vida. E num acto de fé.

16 abril 2013

I

Passo a minha mão pela tua cabeça,
recurvamente, atentamente, e só com dedos brandos,
olhando-a como passa e vendo onde passou.

Quero tanto saber o que tu pensas.

II

O que tu pensas, mas apenas como,
e quando e o porquê, e não
que estejas pensando ou não que a minha mão,
atenta e recurvada, passa brandamente.

Quero saber aquilo que nem sabes.

III

Aquilo que nem sabes - como saberias
o que o pensar é antes de pensar-se?

A mão que pousa e vai passar atenta.
O olhar que espera ver passar o gesto.
A tácita lembrança de volver os olhos.
A brisa que sabemos vai soprar tão mansa,
ainda antes, no fremir de pétalas ou folhas,
mas não na expectativa de arrepio prévio.

IV

Porque esperaste, ciente, a pele da minha mão?

[ Jorge de Sena ]

01 abril 2013

Verdades.

Gostava tanto de ser crescida.
E de poder dormir três dias seguidos, para descansar esta cabeça, este coração, esta pessoa toda.
E de perceber as coisas.
E de apagar da minha vida a nobre arte de dar uma no cravo e outra na ferradura. Da minha e da dos outros, já agora, se não fosse pedir muito.

20 fevereiro 2013

Anos depois.

No fim do amor, fica a ternura. No fim da rua fica o infinito.

No fim das saudades fica a nostalgia, no fim dos dramas fica a compreensão. No fim das lágrimas há sempre um sorriso.

No fim da agitação, fica a tranquilidade. No fim do passado, fica o presente.

E fica o futuro, também. Todo ele. Todo novo.

15 fevereiro 2013

Sempre.

Just like on the day we met
You pulling on me like a cigarette

13 fevereiro 2013

No Dia Mundial dela.

Não consigo escrever sobre rádio. Não consigo. Nunca consegui. Nada sai bem. Não sei por onde comece nem como acabe. Falta sempre tudo – menos assunto. Assim que tento organizar duas ou três frases, as ideias atropelam-se e percebo que nunca vou saber escrever sobre isto. Sou incapaz de agarrar as pontas soltas e de fazer delas qualquer coisa que se aproveite. Nos grandes amores (não há amores pequenos, mas alguns são maiores do que outros), as recordações são muitas e as emoções são ainda mais. E esta é uma história que começou há pouco tempo mas que já não tem fim, onde não faltam personagens, cenários, vozes e enredos. Tudo, claro, acompanhado de uma extensa banda sonora... e condensado no símbolo absoluto e mais simples: a luz vermelha que separa o mundo real daquele que se cria lá dentro, só nosso e de quem acolhemos nele.

Não sei se tenho jeito para a rádio, mas, seguramente, a rádio tem um jeito especial para mim.



12 fevereiro 2013

A delicadeza de mãos e de gestos com que se molda o que se faz do amor e com amor. A doçura posta em palavras e no silêncio. Suavidade e ternura, pormenor a pormenor. Devagarinho. As músicas certas. No que é e no que se tenta. Na procura e no encontro. Viagem pé ante pé e com pezinhos de lã. Delicadamente.
"Os sentimentos que mais doem, as emoções que mais pungem, são os que são absurdos - a ânsia de coisas impossíveis, precisamente porque são impossíveis, a saudade do que nunca houve, o desejo do que poderia ter sido, a mágoa de não ser outro, a insatisfação da existência do mundo. Todos estes meios tons da consciência da alma criam em nós uma paisagem dolorida, um eterno sol-pôr do que somos."

Bernardo Soares - "Livro do Desassossego"

09 fevereiro 2013

31 janeiro 2013

Casas.

Estou francamente indecisa entre o parece que foi ontem e o parece que passou uma eternidade. Houve tanto nos entretantos. Mas, estranhamente, há coisas que não mudaram nada. A vida andou, viveu-se, o mundo girou (o mundo a sério e o meu, só meu), as pessoas foram, vieram, voltaram, surgiram, desapareceram. E eu fiz o mesmo perante elas, consoante as distâncias, as opções e uma série de pormenores que não vêm ao caso.

Ao mesmo tempo, parece que houve um pé que ficou eternamente no mesmo sítio. Como se um pedacinho da minha alma tivesse ficado para trás, amarrado a qualquer coisa a que sabe sempre bem voltar. Talvez seja aquele pedacinho a que chamam "raízes", "passado", "princípio". Eu chamo-lhe "casa". A primeira.

E vou voltar em breve, com aquele gostinho bom dos regressos.

29 janeiro 2013

Viagens no éter.


Há um gostinho especial nos regressos ao passado. Sem tristezas. Só com a nostalgia boa das recordações que ficam para uma vida inteira. Saber daqueles a quem se passou o testemunho. Deste lado a vida seguiu e do lado de lá está a começar. E o passado e o presente fundem-se assim. Entre quem já passou a fronteira e os que pacientemente aguardam do outro lado, com mil perguntas sobre o bilhete, sobre a viagem, sobre o futuro. Entre os medos de um lado e os sonhos teimosos do outro. Entre as ilusões do antes e a realidade do depois - mágica, também, ainda que de um modo diferente.

E há um frenesim inevitável que se apodera de nós perante a possibilidade de, no presente, regressar ao passado enquanto se dão os retoques finais no futuro.

25 janeiro 2013

22 janeiro 2013

Bonito, quando os outros falam por nós.

Lembro-me agora que tenho de marcar um
encontro contigo, num sítio em que ambos
nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma
das ocorrências da vida venha
interferir no que temos para nos dizer. Muitas
vezes me lembrei que esse sítio podia
ser, até, um lugar sem nada de especial,
como um canto de café, em frente de um espelho
que poderia servir até de pretexto
para reflectir a alma, a impressão da tarde,
o último estertor do dia antes de nos despedirmos,
quando é preciso encontrar uma fórmula que
disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É
que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
aquela que permite a passagem à comunicação
mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,
de súbito, o sentido da despedida, e cada um de nós
leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio
ser, como se uma troca de almas fosse possivel
neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e
me peças: «Vem comigo!», e devo dizer-te que muitas
vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,
isto é, a porta tinha-se fechado até outro
dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
as palavras caem no vazio, como se nunca tivessem
sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que
é também a mais absurda, de um sentimento; e, por
trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia
seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores
do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos
encontrar; que há-de ser um dia azul, de verão, em que
o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,
que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.


Nuno Júdice | 'Poesia Reunida'

17 janeiro 2013

Vinte e quatro.


A primeira de todas as casas onde me tornei no que hoje sou. Bases que criaram raízes e que, com a ajuda dos adubos certos no passado e no presente – gente, sítios, experiências –, me hão-de valer para a vida inteira. Fui muito feliz. E tenho saudades. Tantas. De pessoas e de momentos.

16 janeiro 2013

Recados.

Don't ask me when, but ask me why
Don't ask me how, but ask me where
There is a road, there is a way
There is a place, there is a place

14 janeiro 2013

"But tonight you're on my mind, so, you never know"

Não sei quantos "eu também" nos faltam. Perdidos aqui e ali, encontrados e gostava eu que não esquecidos. Não sei, mesmo, por onde se faz o caminho. Tenho mil planos. Ou talvez não tenha nem um, porque chamar-lhes planos é optimismo. São ideias, só. E, mesmo assim, longe de mil - talvez uma, ou duas, ou três. Nenhuma com certezas, nenhuma com lógica, e tu sempre a chegares e a saíres, a aproximares-te e a afastares-te.

Há-de haver uma forma. Uma maneira. Um passo certo e irremediável, um seguir em frente e só, só em frente. Nem ao engano, nem atrás, nem ao lado. Só lado a lado.


09 janeiro 2013

Forever.


Esta manhã a telefonia impôs-me que falasse nisto. E a nostalgia apoderou-se de mim. Todo um quinto e sexto ano. Toda uma adolescência - minha e de uma moça de coração enorme, moça essa que à época fazia moda própria a partir das t-shirts mais comuns. E moça essa que, tantos anos depois, segue pela mesma estrada que eu nestas coisas da rádio.

A Pedro de Santarém, a rádio da escola, os corações nos cadernos, os dramas nos intervalos, os moços que andavam no oitavo e no nono ano e por isso eram à nossa vista tão crescidos. (João Pedro, David, Kiko e Daniel, eu e a moça das t-shirts nunca havemos de esquecer os vossos nomes. E associar-vos às Spice Girls, remetendo para aquela altura das nossas vidas, é uma ode.)

O éter faz-me destas surpresas. Em manhãs de chuva, ainda por cima. Bonito!

07 janeiro 2013

"Amo-te tanto. E nunca te beijei…
E nesse beijo, amor, que eu te não dei, guardo os versos mais lindos que te fiz."

Florbela Espanca