31 janeiro 2013

Casas.

Estou francamente indecisa entre o parece que foi ontem e o parece que passou uma eternidade. Houve tanto nos entretantos. Mas, estranhamente, há coisas que não mudaram nada. A vida andou, viveu-se, o mundo girou (o mundo a sério e o meu, só meu), as pessoas foram, vieram, voltaram, surgiram, desapareceram. E eu fiz o mesmo perante elas, consoante as distâncias, as opções e uma série de pormenores que não vêm ao caso.

Ao mesmo tempo, parece que houve um pé que ficou eternamente no mesmo sítio. Como se um pedacinho da minha alma tivesse ficado para trás, amarrado a qualquer coisa a que sabe sempre bem voltar. Talvez seja aquele pedacinho a que chamam "raízes", "passado", "princípio". Eu chamo-lhe "casa". A primeira.

E vou voltar em breve, com aquele gostinho bom dos regressos.

29 janeiro 2013

Viagens no éter.


Há um gostinho especial nos regressos ao passado. Sem tristezas. Só com a nostalgia boa das recordações que ficam para uma vida inteira. Saber daqueles a quem se passou o testemunho. Deste lado a vida seguiu e do lado de lá está a começar. E o passado e o presente fundem-se assim. Entre quem já passou a fronteira e os que pacientemente aguardam do outro lado, com mil perguntas sobre o bilhete, sobre a viagem, sobre o futuro. Entre os medos de um lado e os sonhos teimosos do outro. Entre as ilusões do antes e a realidade do depois - mágica, também, ainda que de um modo diferente.

E há um frenesim inevitável que se apodera de nós perante a possibilidade de, no presente, regressar ao passado enquanto se dão os retoques finais no futuro.

25 janeiro 2013

22 janeiro 2013

Bonito, quando os outros falam por nós.

Lembro-me agora que tenho de marcar um
encontro contigo, num sítio em que ambos
nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma
das ocorrências da vida venha
interferir no que temos para nos dizer. Muitas
vezes me lembrei que esse sítio podia
ser, até, um lugar sem nada de especial,
como um canto de café, em frente de um espelho
que poderia servir até de pretexto
para reflectir a alma, a impressão da tarde,
o último estertor do dia antes de nos despedirmos,
quando é preciso encontrar uma fórmula que
disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É
que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
aquela que permite a passagem à comunicação
mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,
de súbito, o sentido da despedida, e cada um de nós
leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio
ser, como se uma troca de almas fosse possivel
neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e
me peças: «Vem comigo!», e devo dizer-te que muitas
vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,
isto é, a porta tinha-se fechado até outro
dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
as palavras caem no vazio, como se nunca tivessem
sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que
é também a mais absurda, de um sentimento; e, por
trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia
seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores
do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos
encontrar; que há-de ser um dia azul, de verão, em que
o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,
que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.


Nuno Júdice | 'Poesia Reunida'

17 janeiro 2013

Vinte e quatro.


A primeira de todas as casas onde me tornei no que hoje sou. Bases que criaram raízes e que, com a ajuda dos adubos certos no passado e no presente – gente, sítios, experiências –, me hão-de valer para a vida inteira. Fui muito feliz. E tenho saudades. Tantas. De pessoas e de momentos.

16 janeiro 2013

Recados.

Don't ask me when, but ask me why
Don't ask me how, but ask me where
There is a road, there is a way
There is a place, there is a place

14 janeiro 2013

"But tonight you're on my mind, so, you never know"

Não sei quantos "eu também" nos faltam. Perdidos aqui e ali, encontrados e gostava eu que não esquecidos. Não sei, mesmo, por onde se faz o caminho. Tenho mil planos. Ou talvez não tenha nem um, porque chamar-lhes planos é optimismo. São ideias, só. E, mesmo assim, longe de mil - talvez uma, ou duas, ou três. Nenhuma com certezas, nenhuma com lógica, e tu sempre a chegares e a saíres, a aproximares-te e a afastares-te.

Há-de haver uma forma. Uma maneira. Um passo certo e irremediável, um seguir em frente e só, só em frente. Nem ao engano, nem atrás, nem ao lado. Só lado a lado.


09 janeiro 2013

Forever.


Esta manhã a telefonia impôs-me que falasse nisto. E a nostalgia apoderou-se de mim. Todo um quinto e sexto ano. Toda uma adolescência - minha e de uma moça de coração enorme, moça essa que à época fazia moda própria a partir das t-shirts mais comuns. E moça essa que, tantos anos depois, segue pela mesma estrada que eu nestas coisas da rádio.

A Pedro de Santarém, a rádio da escola, os corações nos cadernos, os dramas nos intervalos, os moços que andavam no oitavo e no nono ano e por isso eram à nossa vista tão crescidos. (João Pedro, David, Kiko e Daniel, eu e a moça das t-shirts nunca havemos de esquecer os vossos nomes. E associar-vos às Spice Girls, remetendo para aquela altura das nossas vidas, é uma ode.)

O éter faz-me destas surpresas. Em manhãs de chuva, ainda por cima. Bonito!

07 janeiro 2013

"Amo-te tanto. E nunca te beijei…
E nesse beijo, amor, que eu te não dei, guardo os versos mais lindos que te fiz."

Florbela Espanca