16 abril 2013

I

Passo a minha mão pela tua cabeça,
recurvamente, atentamente, e só com dedos brandos,
olhando-a como passa e vendo onde passou.

Quero tanto saber o que tu pensas.

II

O que tu pensas, mas apenas como,
e quando e o porquê, e não
que estejas pensando ou não que a minha mão,
atenta e recurvada, passa brandamente.

Quero saber aquilo que nem sabes.

III

Aquilo que nem sabes - como saberias
o que o pensar é antes de pensar-se?

A mão que pousa e vai passar atenta.
O olhar que espera ver passar o gesto.
A tácita lembrança de volver os olhos.
A brisa que sabemos vai soprar tão mansa,
ainda antes, no fremir de pétalas ou folhas,
mas não na expectativa de arrepio prévio.

IV

Porque esperaste, ciente, a pele da minha mão?

[ Jorge de Sena ]

01 abril 2013

Verdades.

Gostava tanto de ser crescida.
E de poder dormir três dias seguidos, para descansar esta cabeça, este coração, esta pessoa toda.
E de perceber as coisas.
E de apagar da minha vida a nobre arte de dar uma no cravo e outra na ferradura. Da minha e da dos outros, já agora, se não fosse pedir muito.