21 outubro 2011

Da confusão dos últimos tempos.


Muitos meses depois. Um ano mais tarde. E as feridas que não saram. Que não saem de mim, que doem com uma dor diferente mas que não deixam de doer.

Há marcas que ficam. Mais ou menos dormentes, consoante os dias, mas nunca desaparecem por completo. E não é preciso muito para a alma ficar em pedaços outra vez. Pedaços esquisitos, diferentes... Mas pedaços. Que doem quando se abrem e se separam.

O passado foi lá atrás, mas não me larga. Subsistem os estilhaços, cá dentro. E não há cola que mos cole. Há, em vez disso, novos bocados de mim para quebrar. E é o tempo que não passa, e é a vida que não muda, e é o futuro que não chega. Errados a acumularem-se onde deviam aparecer certos, nem que fosse de vez em quando, para lhe tomar o gosto. Já esqueci o sabor de tantas coisas...

E são os olhos que dizem tudo. Mas não falam. E eu queria que falassem, que uma voz lhes desse voz. E sentido. Queria palavras nos olhares.

16 outubro 2011

A magia da rádio.

A magia da rádio? Simples.

Duas pessoas que se encontraram no éter e que os senhores do éter se encarregaram de separar. Muito tempo depois, afastados como o Norte do Sul, numa noite o éter une-os outra vez. Um em viagem para o Porto, outra parada em Lisboa. Os dois na mesma frequência. Os dois em sintonia. Sem saberem, de início, mas apercebendo-se depois. Mensagens para lá e para cá, memórias a fluir a propósito das músicas que vão passando, risadas de quem se conhece bem e que já sabe o que outro vai dizer ou fazer ao som da canção que se segue.

É em momentos assim que se sente a verdadeira força do éter. Por mais que os senhores separem, a rádio há-de sempre juntar quem a respira. E junta de uma maneira muito especial, impossível de explicar, e digna de um sorriso único, que só aparece em momentos assim... Momentos de peito cheio de mil coisas sem nome, entre as recordações boas e a lagriminha tranquila mas teimosa ao canto do olho. A alma de viagem ao passado. Instantes maiores ou mais pequenos, mas únicos. Indescritíveis. Puramente mágicos.

Com tanto ou tão pouco, a noite mais comum de todas tornou-se nisso mesmo: numa noite mágica. Porque este fio invisível que mantém as pessoas unidas é obra dela - da magia da rádio.

12 outubro 2011

Posso pedir um desejo?


Sem pestanas caídas, passas fora de época, velas mordidas antes da data ou estrelas cadentes quando ainda está sol?

Hoje é um daqueles dias em que queria poder segurar o coração de algumas pessoas. Para não deixar que ninguém nem nada de mau as magoasse. Agarrar-lhes a alma com as duas mãos e prendê-la, confortá-la. Hoje queria salvar, queria proteger. Queria guardar e resguardar.

Queria tanto.

Posso?

03 outubro 2011

[Im]Paciência.


A paciência é uma linha. Pequena, magrinha. Mirrada, seca. É um saco vazio, uma caixa oca. É menos que zero. Saldo negativo nas contas do que se tolera. Coração à beirinha, sem mais espaço para um passo que seja. Tropeçar na língua afiada. A parede já não é parede, cai-lhe o “pa” e é só rede, de buracos tão largos que tudo passa por eles. Diz-se o que a alma diz, sem filtros sociais ou de bom senso. E tudo sai por fora, transborda porque é demais para caber cá dentro.