27 julho 2012

Cinco anos de Julho.

Quem me conhece minimamente bem sabe que datas são coisa que me diz pouco. Não me custam nem me alegram muito mais do que outro dia qualquer.

Por isso, este texto não é sobre datas. Nem sobre efemérides. É só sobre coincidências. Sobre o momento em que, em pleno processo criativo para algo que nada tem a ver com isto, poucos segundos de uma espécie de distracção bastaram para que percebesse o tamanho que Julho tem na minha vida. Por isto, por aquilo. Pelos cinco, pelos quatro, pelos três, pelos dois anos que passaram desde que. Só assim: desde que.

Desde que, há cinco anos, o meu mundo se virou ao contrário para nunca mais voltar ao mesmo sítio. E olhar para essa data mostra que os meus pólos continuam a ser os mesmos. Os suportes que, por vezes sem saberem, sempre me mantiveram de pé, pronta para tudo o que a vida me desse, não mudaram. Não saíram.

Desde que, há quatro anos, nova volta se deu e com ela se deu também o começo da vida insane, agitada, deliciosa, inesquecível, toda ela gente, sensações, momentos, projectos, e, no fundo, inaugurada da única forma que poderia fazer sentido.

Desde que, há três anos, entravam pela porta ainda aberta pedaços do passado em forma de gente, num corropio de reencontros e de palavras que ficavam no ar.

Desde que, há dois anos, a mesma porta se fechou na minha cara e com um estrondo que ainda hoje ecoa nos meus ouvidos.

Ao fim de cinco anos, a ausência continua presente. Quatro anos mais tarde, a história repetiu-se e não sei deixar de pensar nas reviravoltas do entretanto. Três anos volvidos, os reencontros voltaram a acontecer. Dois anos depois, a porta reabriu-se. Do lado de cá, ainda não decidi se tudo mudou ou se está tudo na mesma. Sei apenas que me parece que nunca estive do lado de lá.

Mês sete. Trinta e um dias. Se a vida fosse feita de números, não tenho dúvidas de que nove décimos da minha aconteceram em Julho.

23 julho 2012

Do fim das saudades.

Cruzar-me contigo e já não fazer mal. As saudades que não fazem mal, o que ficou por dizer que não faz mal. Nada faz mal. Com a tua ajuda matei as dores e a metade das saudades que restava.
Obrigada por negares, aos poucos, tudo aquilo em que te construíste em tempos para mim. Obrigada pelo jogo limpo. Por já não fazeres falta naquele sítio só teu. Por teres partido na tua estrada. Eu sigo em frente. Na minha. Obrigada.

16 julho 2012

Não desvalorizando aqueles que me magoaram aos 12, 14 ou 16 anos

... mas quem o faz nesta altura, anos depois, fere mais. Muito mais. Vai muito além de magoar. Palminhas para a maldade, para a falta de carácter, para quem já enganou meio mundo e está quase a enganar a outra metade,
para quem faz pouco do coração dos outros.

Do querer.

"Queria dizer-te. Queria.
Queria olhar-te. Olhar-te com força – como se olha com força? E dizer-te.
Dizer-te que sim. Sempre sim. Desde o primeiro não que sim.
Dizer-te que quero. Olhar-te com força. Dizer-te. Queria.
Dizer-te. Negar o não. Negar o não que desde sempre – onde começou o sempre? – foi sim.
Dizer-te menti. Dizer-te fugi. Dizer-te parti.
Queria. Dizer-te aqui. Dizer-te agora. Dizer-te já.
Queria. Sempre queria.
Queria, amor. Amor.
O imperfeito. Queria. O imperfeito.
Amor."

Pedro Chagas Freitas

09 julho 2012

Crónica dos últimos quinze dias.

A sério que gostava de chegar aqui e começar a debitar prosa ou poesia sem fim à vista sobre os últimos dias. Adorava. Do fundo do coração, quem me dera ter palavras para tudo isto. Para o meu reencontro comigo mesma, para a redescoberta de quem sou e para a novidade das mudanças que aos poucos detecto em mim. Gostava mesmo muito de saber dizer-vos o que sinto, de ser capaz de vos transmitir as emoções com que me tenho deparado e de conseguir mostrar-vos o efeito "interno" que tudo isto faz. Sinto coisas que nunca mais acabam. Tudo ao molho, tudo ao mesmo tempo. Novidades à velocidade da luz por entre sorrisos novos todos os dias e pequenas grandes conclusões e descobertas que nascem a um ritmo imparável. De dia para dia cresce-me o coração, a vontade e o sorriso. O tempo passa e vou ficando sempre um bocadinho mais feliz, um bocadinho mais incrédula, um bocadinho mais pasma. Não há espaço em mim para tanta coisa...

04 julho 2012

Voltas.

Faz-me confusão quando dois amigos se tratam como estranhos. A vida faz-se de entradas e saídas – sei isso agora, melhor do que nunca. Entradas e saídas de sítios. Entradas e saídas de gente nas nossas vidas. Entre o que sai e o que entra, estão os regressos. As saídas que ficaram sempre perto da porta. E as entradas que, desde início, mostraram que seriam breves e tortuosas.

Faz-me confusão este esquema de subidas e descidas. Mas já me habituei à rampa, onde se desce tão depressa quanto se subiu, onde um dia se está apontado numa direcção e no dia seguinte a roleta gira e escorregamos quase sem darmos por isso.

Vale para tudo, esta lei. Vale para os sítios, sim; vale para o que se diz, o que se faz, o que se ouve. Vale para quem se é e quem se foi. E vale também para quem está à volta. Subir e descer; ser e não ser. Passar do tudo ao nada. Sem perceber, sem ver. Houve um dia em que tudo mudou mas nesse dia eu não devia estar neste mundo. Acho que me ausentei por momentos. Talvez horas, talvez segundos. Talvez meses. Talvez tempo a menos. Ou tempo demais. Só sei que, entre a saída e a entrada, no espaço do regresso, o sentido das coisas mudou. Já nem o mapa é o mesmo. E termino onde comecei: faz-me confusão quando dois amigos se tratam como estranhos.