04 julho 2012

Voltas.

Faz-me confusão quando dois amigos se tratam como estranhos. A vida faz-se de entradas e saídas – sei isso agora, melhor do que nunca. Entradas e saídas de sítios. Entradas e saídas de gente nas nossas vidas. Entre o que sai e o que entra, estão os regressos. As saídas que ficaram sempre perto da porta. E as entradas que, desde início, mostraram que seriam breves e tortuosas.

Faz-me confusão este esquema de subidas e descidas. Mas já me habituei à rampa, onde se desce tão depressa quanto se subiu, onde um dia se está apontado numa direcção e no dia seguinte a roleta gira e escorregamos quase sem darmos por isso.

Vale para tudo, esta lei. Vale para os sítios, sim; vale para o que se diz, o que se faz, o que se ouve. Vale para quem se é e quem se foi. E vale também para quem está à volta. Subir e descer; ser e não ser. Passar do tudo ao nada. Sem perceber, sem ver. Houve um dia em que tudo mudou mas nesse dia eu não devia estar neste mundo. Acho que me ausentei por momentos. Talvez horas, talvez segundos. Talvez meses. Talvez tempo a menos. Ou tempo demais. Só sei que, entre a saída e a entrada, no espaço do regresso, o sentido das coisas mudou. Já nem o mapa é o mesmo. E termino onde comecei: faz-me confusão quando dois amigos se tratam como estranhos.

1 comentário:

  1. Mas porque será que, logo na primeira frase, me revi neste texto? :)
    É bem verdade o que dizes. Como às vezes costumo dizer, a vida é uma máquina de lavar.

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