31 agosto 2011

Envelope.

Toda a fé numa carta que me leva lá dentro. Toda a fé numa carta de coração aberto, em jeito de menina cansada e obstinada. Toda a fé numa carta das antigas, das que sabem bem, das que já pouco se fazem, das que metem papel, envelope e selo ao barulho, na teimosia de querer fazer bonito e bem-feito, adequado ao destinatário e à ocasião. Toda a fé numa carta que segue em correio azul, na pressa de quem não quer esperar mais, na urgência de quem quer fugir. Toda a fé numa carta e em que ela se transforme no bilhete de ida sem volta. Toda a fé na bondade do destinatário, que todos referem, destacam, relembram, prometem.

Fé na fé. Fé no meio da pouca fé que tenho.

17 agosto 2011

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Há pessoas que não acreditam no lado bom dos outros. Vêem-no mas acham sempre que é mentira. Ninguém pode ser assim tão bom, caramba. Acham que os bons não passam de maus, só que são maus muito espertos. Acham que há sempre um lado malvado, retorcido, escuro, MAU. Mesmo que ele não exista. Insinua-se eternamente que está lá; em casos extremos, assume-se que está mesmo. Lida-se com quem é bom como se fosse mau. Porque a pessoa boa não pode ser boa. A pessoa boa é tão má como as outras. A pessoa boa forra-se de bondade mas é feia, lá dentro. Em caso de dúvida, opta-se por castigar o inocente. E de nada valem desculpas, justificações. A verdade de nada vale. Porque, se quem ouve assim quer, a verdade é simplesmente mentira.

Mesmo que não seja. Mesmo que seja a mais pura das verdades, de nada vale lançá-la aos ouvidos de quem decide não acreditar e infernizar a alma a quem nada fez. Mesmo que o lado mau seja pequenino, pequenino, pequenino, e que não se tenha sequer manifestado, é só ele que importa, que interessa e que, supostamente, se sobrepõe a tudo.

Só se vê o que se quer ver. Porque o orgulho é cego. É uma m***a. Mata o que une as pessoas. Porquê? Porque sim. O nome é a resposta - orgulho.

De repente a mais pura verdade é mentira. De repente tudo o que se diz é interpretado ao contrário. De repente os esforços de uma vida inteira valem muito, muito, muito menos que nada. E a vida segue quase morta, com cada passo dado com uma faca enorme no coração.

08 agosto 2011

Puro génio fotográfico.

Ver a ironia do destino da bancada. Em silêncio. Uma fotografia, duas pessoas. E eu, sem as conhecer, sei mais das ambições de um e do futuro do outro do que elas próprias. A inocente ignorância do sabichão. E o lado retorcido, amarelado, do que finge o sorriso afável. Puro teatro.
Há imagens que valem milhões... E só eu é que sei disso.