Muitos meses depois. Um ano mais
tarde. E as feridas que não saram. Que não saem de mim, que doem com uma dor
diferente mas que não deixam de doer.
Há marcas que ficam. Mais ou
menos dormentes, consoante os dias, mas nunca desaparecem por completo. E não é
preciso muito para a alma ficar em pedaços outra vez. Pedaços esquisitos,
diferentes... Mas pedaços. Que doem quando se abrem e se separam.
O passado foi lá atrás, mas não
me larga. Subsistem os estilhaços, cá dentro. E não há cola que mos cole. Há,
em vez disso, novos bocados de mim para quebrar. E é o tempo que não passa, e é
a vida que não muda, e é o futuro que não chega. Errados a acumularem-se onde
deviam aparecer certos, nem que fosse de vez em quando, para lhe tomar o gosto.
Já esqueci o sabor de tantas coisas...
E são os olhos que dizem tudo.
Mas não falam. E eu queria que falassem, que uma voz lhes desse voz. E sentido.
Queria palavras nos olhares.