20 novembro 2010

Pedro.

Acredito que não deixaste nada por dizer. Mas assusta-me muito pensar que isso pode ter acontecido. Acho que a vida te ensinou, da pior forma, que nada é eterno ou garantido, e que devemos aproveitar ao máximo cada segundo. E dizer sempre o que temos guardado cá dentro, porque o amanhã pode não existir. E é por isso que, cá no fundo, sinto que foste realmente em paz. Porque sabias o valor das coisas. E conhecias o mais profundo significado da palavra "efémero".

Ainda não consigo, Pedro. Ainda não tenho coragem para dizer tudo. Inspiras-me a que o faça, ainda que a inspiração venha do pior de todos os motivos. Mas ainda não sou capaz. Estou num debate muito grande, porque parte de mim diz que há tempo, que há coisas que não podem ser ditas "assim", do nada, e a outra parte acaba de se deparar com a realidade mais cruel: pode não haver tempo. Podem ficar coisas por dizer. Coisas que não suporto imaginar que nunca cheguem a ser ditas. E têm de ser sabidas. Têm mesmo.

Mas não consigo fazer isso hoje. Só amanhã. Desculpa. Hoje, a única coisa que consigo fazer é lembrar-te. Espero que o amanhã cá esteja, Pedro. Para que chegue o dia em que sei lidar com o que agora não digo. Para que saiba seguir o teu exemplo. O único medo que tenho do "fim" é esse mesmo: o que fica por dizer. Acredito que partiste tranquilo, porque acredito que não levaste contigo nenhuma palavra que não tenhas antes cá deixado. Ensinaste-me o valor disso, e um dia eu vou saber fazer o mesmo. Vais ver.

Obrigada, Pedro. Até sempre.

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