02 outubro 2010

Baú.

Há coisas que fechámos tão, tão bem no baú - julgamos nós. E depois, um dia, encontramos a chave, mais ou menos por acaso. E nem queremos utilizá-la. Preferimos ignorar, esquecer que ela apareceu, fingir que não a vimos. Mas por qualquer motivo, nosso ou de quem está à volta, pegamos nela e abrimos o baú. Não há-de fazer mal, pensamos; não há-de custar, não há-de doer. O tempo que passou já deve ter sarado as feridas, caramba. Não pode ser assim tão difícil ou tão doloroso encarar o que lá ficou atrás, guardado, ignorado e escondido. Por isso, pegamos em toda a coragem que temos, metemos a chave na fechadura e "click", o baú abre-se. E conforme se abre, há uma espiral de coisas que vêm à cabeça. Queremos ser fortes, manter a pose, mas é inútil. Ainda nem espreitámos lá para dentro e a ferida já está aberta outra vez. E sabe tão mal. E ao mesmo tempo sabe tão bem. 

Não posso deitar este baú fora. Não posso, não quero, não é sequer possível. Nunca. Guardo lá tanto, tanto, tanto. É um baú tão cheio... Tudo o que se possa imaginar cabe lá dentro. E vive lá dentro.

Acho que vai ser assim para sempre. Há coisas que não mudam. Que não se resolvem. Feridas que ficam abertas para a eternidade. Dores que persistem, e sorrisos que, ao mesmo tempo, persistem com elas.

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