21 outubro 2010

Cimento.


Parede a parede. Constrói-se o futuro sobre o passado dos outros. Destrói-se. Deita-se abaixo à pancada. Já nem o que era nosso existe agora. Matam-se as recordações em rasgos de orgulho e de loucura mal-disfarçada. Quantas chapadas temos de levar para nos habituarmos a que o nosso passado seja posse dos outros, sem que haja maneira de o preservar noutro sítio que não na nossa memória? Já não há nada. Foi-se tudo. Destruído. Poucos lhes importa o quanto dói. O futuro tem de ser soberano, nem que para isso tenha de ser construído sobre escombros de recordações de quem não pediu nada disto. Não resta nada. Tudo morto, desaparecido, um espaço que o era e já não o é. Dantes voltar ali era voltar ao passado; agora não é voltar a nada. É certo que a vida tem de continuar, que as coisas mudam... Mas não é justo mexerem no nosso passado, desfazerem-no em pó, sem sequer pedirem licença. Não pode ser justo, isto. Não pode estar certo. Era tudo nosso e não deles, mas eles mandam, e é só. Por isso, destroem. Esmagam. Não sei explicar muito bem a ligação que ganhamos aos sítios, mas certo é que ela existe, e de repente esses sítios já só vivem na nossa memória, porque nunca ninguém voltará a vê-los ou a passar por eles ou a viver o tanto que se vivia neles. Desapareceram para sempre. Nunca nada vai voltar a ser igual. É impossível.


O meu passado ali foi desfeito. Já nada existe. Nada. O pouco que existia... O pequeno elo que mantinha o passado vivo, que mantinha a ideia de normalidade, de regresso a casa, de que um dia tudo pudesse voltar a ser parecido com o que era dantes, que mantinha a esperança de um dia regressar ao que foi tão meu... Desapareceu. Já pouco ou nada resta daquilo que fazia de certos sítios os meus sítios. Mataram. Mataram tudo. Tudo, tudo, tudo. E eu estou de cabeça e coração tão desarrumados.

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